Interview excerpt, Sara Juma
Interview #1 073
25 October 1995

H U mani vito ra wena?
S Sara Juma.
H Sara—
S Sara, Juma.
H Juma.
S Mmm. Sou Maometana.
H Eeh.
S Mmm.
H Okay. Sara é o seu nome de nascença, ou tem outro nome?
Ruti Sara, i vito ra wena ra kutswaliwa, ou—
S Ra kutswaliwa.
R u vito ran'wana—
S Nada. Ka madocumento, i ro lero. Sara Juma.
R Sara Juma.
S  Juma, mmm.
H Juma é o nome—
S  É o nome do meu pai.
H Do seu pai.
S  Mmm.
H Okay—
S Era infirmeiro daqui, do hospital.
H Em Magude?
S  O dono daquela igreja ali, Maometana.
H Ah!
S  Mm.
H I mani vito ra yena?
S  É o Ibraimo.
H Ibraimo.
S  Mmm. Juma, Ibraimo.
...
H I mani vito ra mamana wa wena?
S Mamana wa me, Alysse.
H Alysse. Waka—
S Waka Ntlhemo.
H Ntlhemo.
S  Mmm.
H Nunca ouvi este xivongo.
R Apelido? Mas, não sei, é que, na nossa zona não existe. São, outro lado—
S Só naquele outro lado de Bobi.
H Bobi.
S  Xinavana lá, era terra dele.
R Ah, sim.
H Ah, okay.
S Mmm. Era terra dela lá, Ntlhemo.
...
H I mani vito ra bava wa bava wa wena?
S  Bava wa bava wa mina, i, Ibraimo.
H Ibraimo.
S  Mmm.
H Só, ou—xivongo?
S  Eee! A xivongo, na mina anivativi swinene! [laughter]
H E atswaliwe Inhambane também?
S Atswaliwe Inhambane, eee.
H Huh.
S Mmm.A papai wa papai wa mina, iri MuBanyana, wa le India. Aakumeka, avakumeka a Inhambane. Se, agangisa la na kokwana wa mina, xa, tswala a, a papai wa mina, kuhala Inhambane. Kokwana wa mina wa kutswala papai wa mina, i MuNhambane, wa xisati. MuNhambane wa kumeka ku hala, Inhambane.
H Ah.
R Percebeu?
H Penso que sim, mas deve traduzir—sabes que eu não entendi bem as vezes. [laughter]
R O avô, é natural de Inhambane. A mãe também, a avó, se encontraram lá, Inhambane. O naturalidade de avô, é de India.
S Da India.
R É da India.
S  O meu avô que nasceu o meu pai, esse homem, é da India.
H Nasceu em India.
S  Não, não, nasceu na Inhambane. Quer dizer, o meu avô, que nasceu o meu pai, então ele é morada de Inhambane. Esse o meu avô, então vinha de lá, fazer o trabalho em Inhambane. Tinha as cantinas lá em Inhambane.
H Okay. Então, mas o pai do seu pai nasceu em India.
R  Mmm. Kokwana wa wena.
S  Sim. O meu avô foi nascido em India.
H Okay. Huh.
S  Mmm. Porque, sairam de lá, de India, vieram trabalhar como assim que a, a senhora está aqui, no trabalho.
H Sim.
S  Sim. É isso, então, quando chegar aqui, apanhar o homem [?] então, fazer filhos, já, é daqui.
H Okay.
S  Não é de la, de tua terra.
H Não, é verdade.
S  É isso. [laughter]
H Então, o pai do seu pai, agangisile em Inhambane.
R  Eh, akumile wansati Inhambane.
S  Mmm. Se, agangisa na na ye, lweyi wansati lweyi. Já atswale a papai wa me.
H, R Ah, okay.
S  Eeh. Se, papai wa me, se asuka hala Inhambane, angakuli la ko, ata ta kumeka lomu, aari rikulu swa hala [?], ra, ra infirmeiro. A, asuka [.?.] se, atakumeka lomu Magude, lava infirmeiro mukulu la, hospital Magude.
H Ah, wow.
S  Hi va kusungula kufundara la hospital Magude!
...
H I mani vito ra bava wa mamana wa wena?
S  I Fátima.
R Bava. Bava wa mamana wa wena.
S  Bava wa mamana wa wena.
R  Eee. Kokwana.
S  I Nyangumbe.
H Nyangumbe. Waka—?
S Waka Ntlhemo.
H I atswaliwe kwini?
S  Eee! La angatswaliwe kona, atswaliwe hala ka Bobi, ka Ntlhemo.
R  Ka Ntlhemo.
H Ka Ntlhemo. Okay. I mani vito ra mamana wa mamana wa wena?
S Mamana wa mamana wa mina, i Nton'wasse.
H Nton'wasse.
S  Waka Simango.
H Simango. Okay, esse xivongo eu conheço. [laughter] E atswaliwe kwini?
S  Atswaliwe Musapa.
H Musapa.
S  Mmm.
H Huh. Sabe como foi que este homem, esta senhora conheceram [sic], a mãe e—?
S Na mamana?
H Sim.
S  A kokwana wa mina, amukume hi nyimpi, yi [.?.] bava ku valwa nyimpi. Se, atsutsuma, ni kokwana wa mina. Na va, tala va nyimpi, lava valava kudlaya. Se, akombela aku "Ntlhemo! Wanitsika, nifa ke. Utafika, uku yini, loko nisiya, anisiya [?] ku vasala vanidlaya?" Se, amuteka, a kokwana wa mina. Avuya na ye, a kaya kakwe. Kaya kakwe, angahatlelanga, só ayenca a nsati wa ye.
R  Mm-mmm. Então, a avó foi apanhada na guerra. Eh mamana, é vovo wa xisati, ha swo?
S  Vovo xisati.
R Yah. Wa kutswala mamana.
S  Wa kutswala mamana.
R Yah. Foi apanhado na guerra. Então, quando ela estava a fugir da guerra, não é? Correrem para ca. Então, a avó disse-lhe, ao senhor Ntlhemo, que "Olha, voce só corre me deixar. O que que voce vai dizer quando voce chegar em casa? Vai dizer de que, eu morri? Enquanto voce não tomou conta de mim?" Então o senhor Ntlhemo, pegou naquela senhora, viveu com ela. Então, considerou como se fosse mulher. Então, viveram como se fosse mulher, religião-se, ficaram-se junto, homem e mulher.
H Huh. Wow. Quem contou esta história? [laughter]
S Quem contou foi a minha avó. Foi a minha tia, irmã da minha mãe. Minha mãe também sabe.
H Wow. [laughter] Como, nesta história, elas diziam alguma coisa sobre, como era, para a sua avó, viver numa terra estranha—porque Simango, não é um povo, não é Ndzau?
S WaNdzau, é MaNdau.
H Então ela falava outra lingua?
S  MaNdau. Até ela fecha—quando estava zangada com marido, fechava a boca.
R  Arranjava um, cadea—
S  Uma cadeada [sic].
R  Uma cadeada.
S  Havia uma cadeada péquinina que fechava a boca. Quando estava zangada com marido. O então assim, quando ela não está bom nesse dia. [.?.] aquele está pronto, porque não está nada bom.
H Em Shangaan, como se chama?
R, S Voboxa nomu.
H Oh, okay. Como boxar ndleve.
R  Como boxar ndleve. Sim.
S  Eh, a boxa nomu, aveka kiya.
H Ah!
S  Mmm.
R  Aboxa nomu, aveka kiya.
S  Se, aveka kiya nomu, akwatile, anga loku angula munhu!
H Huh.
S  Mmm.
H Então, a vida dela era difícil?
S  Era muito difícil porque, era assim MaNdau que não, não gostava falar com ninguém.
H Hmm.
S  Mmm. Até mesmo, a comida dela, quando come, ela moe [.?.] com aquela pedra.
R  Não é com xihiso.
S  Não é com xihiso.
R  Não. É com pedra, é com pedra.
S  Pedra com a pedra.
H Huh.
S  Mmm.
H Quando ela chegou para morar com o marido, ela não mudou estas—
S  Não mudou, porque o marido também, já tinha acustomado desse modo de MaChangana, que ele mesmo usava aqui. Porque até para dormir, almofada dele não era almofada como esse gente tem agora. Havia um arvore assim, que fazia, depois pôr capulana ali, pôr cabeça na aquele pauzinho.
R  Parece que é um tronco, assim.
H Ah, sim.
R Mas bem feito!
S  Mas bem feito. Até para pôr a cabeça ali, pôr capulana, pôr ali.
H Como se chama, em Shangaan?
S  Changana, i—ah, i xigarhu.
H Xigarhu.
S  Mmm.
H Ah, wow.
S  Xigarhu.
H Huh. Então, os pães da sua mãe usavam—
S  Usava isso.
H Wow.
S  Mmm. Porque até próprio o meu avô, ele não sabe bikini. Só usava aquela—havia uma coisa que, fazia, depois usar, fechar aqui. Amarrar assim. [laughter]
H Huh. Como se chama esta coisa?
R  É tinjovo.
H Tinjovo.
S  Lexi xa ku nesekana.
R  Para—
S  Lexi, lexi xa, lexi—
R  Não é tinjovo?
S  A tinjovo i ta ta ku ba, ta ku "ee." Se lexi, xa kuna [..?..] lani, i lexi, xa, lexi—mm! Nixikhohlwile, nixikhohlwile, kambe naxitiva. Se, ni cueca, 1 [..?..]. A va usava—ha swona, ee. Cueca, loko mu ko va va khale, angabala cueca, cueca i ra ku xixiya—nokhohlwa, nokhohlwa, mas naxitiva.
R Mm. Esqueceu mas ela sabe.
S Nakhohlwa. Esqueci mas eu sei!
H Eee.
S Mmm.
R Uma coisa que, não é como—
S  É como coco, não é—coco, quando voce partir coco, não parte-se no meio.
R Mm.
S Parte daqui um poucadinho.
R Sim.
S  Depois, então, eles punham dois fios ali ao lado, assim. Então, ele amarrar, amarrar assim como cueca.
H Wow.
R  Mas, é só para—
S  Mas—enquanto, ele só mete aquele tubo ali! [laughter] Era assim que o meu avô usava. 2
H Wow.
S  Eh.
H Huh.
S Agora a mulher so usava um capulana. Aqui em cima não usava nada.
H Mm.
S  Eh. Não usava nada. Ela so usava missanga, so, como ela era curandeiro. Usava missanga.
H A sua avó era curandeira?
S Sim, a minha avó.
H Mmm.
S Esse espirito que eu fui tirar curso, 3 é do meu avô—é dessa minha avó, que nasceu a minha mãe.
H Swikwembu swa wena.
S Mmm. Swa kokwana wa mina, Nton'wasse, wa ka Simango.




Notes:

Note 1: Cuecas: Portuguese for short drawers, boxer shorts.  Back.

Note 2: Probably a xifado, a "penis cap," usually made from the shell of a small calabash (Henri A. Junod, The Life of a South African Tribe [London: Macmillan, 1927], 1:516).  Back.

Note 3: Kuthwasa: a Shangaan word referring to the long process whereby a person is cured of spirit possession and trained to work as a nyamusoro.  Back.